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MOBILIZAÇÃO EMPRESARIAL E RUPTURA


 

Poucas instituições no Brasil têm acompanhado atentamente os resultados do WEF - foram 6 pontos perdidos desde 2003 – e alguns dos fatores que mais contribuíram para este desempenho

André Ribeiro Coutinho

O World Economic Forum (WEF) publica todos os anos o ranking de competitividade global baseado na percepção de lideranças e formadores de opinião dos mais de 100 países. Em 2005, o índice de competitividade do crescimento coloca o Brasil em 57º lugar, atrás de Chile, México, Índia, Coréia e China, para citar exemplos de países que se empenharam nos últimos 10 anos em trajetórias de desenvolvimento sustentável.

Poucas instituições no Brasil têm acompanhado atentamente os resultados do WEF - foram 6 pontos perdidos desde 2003 – e alguns dos fatores que mais contribuíram para este desempenho: ineficiência burocrática, distorções no sistema tributário, acesso a crédito deficiente, gargalos na infra-estrutura e sistema de educação abaixo dos mínimos.

Por outro lado, nem tudo está perdido, prova de que alguns atores têm feito sua lição de casa e promovido mudanças, por exemplo, quando se analisam os indicadores de negócio do WEF – melhoraram sensivelmente os índices de inovação, de qualidade das operações e estratégias empresariais e das vantagens competitivas. Os atores, ou melhor, os protagonistas deste movimento, são os empresários brasileiros.

De fato, quase todos aqueles fatores que dependiam direta e indiretamente do ambiente institucional e regulatório do país ou do sistema econômico e social vigente puxaram o país para trás no ranking. Graças ao empenho de empresários e trabalhadores das empresas brasileiras, existe uma esperança no ar.

O instante vivido pelo país nestes meados de 2005 poderá significar um marco histórico. A crise política e uma situação insustentável do ponto de vista institucional abriu espaço para um movimento sem precedentes. Os mesmos empresários que presenciaram a partir de 1992 a abertura irreversível do mercado brasileiro ao comércio internacional e desregulamentação de diversos setores, estão a frente deste movimento. Afinal, para sobreviver à globalização, investiram em produtividade, qualidade, eficiência, estratégia e inovação de suas empresas. O resultado – Embraer, Gerdau, Natura, Votorantim, Odebrecht, Vale do Rio do Doce, Weg, Embraco, entre outras. Ou falando de setores, basta observar o desempenho do agribusiness brasileiro, um dos mais respeitados do mundo. No entanto e enquanto isso, viam deteriorar a competitividade de seu país.

A sociedade a serviço do Governo ou o Governo a serviço da sociedade? Por alguma razão, criou-se no país o estigma de criticar o Governo (o “paizão”) que cortou a mesada, que proibiu de sair com os amigos ou que obrigou a fazer o curso de Direito. O instante é mesmo de ruptura, não só o momento em si vivido pelo país, mas as soluções de descontinuidade que estão por vir. Diante da agenda e prioridades de curto prazo vivida pelo Governo e suas instituições, qualquer sinal que remeta o país para o longo prazo soa como música. Não é a toa que as propostas de Déficit Zero do economista Delfim Netto ou de Choque de Gestão, capitaneada por diversos empresários, tenham surtido tanto eco – afinal, uma luz no fim do túnel. Empresários acostumados a prestar contas em suas empresas, a perseguir foco estratégico e eficiência estão levando este mesmo racional para o Governo. As tecnologias de gestão que ajudaram os empresários e suas empresas se tornarem o que são hoje, estão sendo transferidas e adaptadas para o setor público. Afinal, assim fizeram recentemente México (o sistema de indicadores do Presidente Fox) e Coréia do Sul – a definição conjunta Governo-empresários de uma estratégia inovadora para o país (a chamada estratégia do oceano azul). Basta lembrar, que há pouco menos de 10 anos, ninguém no Brasil ouvia falar em Hyundai, LG, Samsung. Os países por aí afora estão se mexendo.

Em se tratando da mobilização empresarial para a mudança, é notório o que vem fazendo os Programas estaduais de Qualidade e Competitividade (sendo Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Bahia os de maior destaque), o Movimento Brasil Competitivo, a Amcham (Câmara de Comércio Americana), a Fundação Nacional da Qualidade (criada na época de abertura comercial do país) e o Forum Nacional da Indústria/CNI – Confederação Nacional da Indústria. Inclusive a CNI está implementando com a participação de 60 lideranças da indústria o Mapa Estratégico da Indústria brasileira, com objetivos, indicadores, metas e ações definitivas para um país melhor em 2015.

A mobilização empresarial é um fato. Soluções de ruptura estão nascendo desta mobilização e o país precisa novamente “queimar etapas” no seu desenvolvimento. Assim foi no período pós-guerra com Getulio Vargas, com JK nos anos 50 (os 50 anos em 5), com os militares nos anos 70 (o II PND). E não basta atacar somente o déficit zero e o choque de gestão, que vem inclusive surtindo bons resultados no Governo de Minas Gerais e deve produzir ganhos importantes nos Ministérios como na Previdência. Haverá também soluções, por exemplo, para a educação básica, um dos temas de maior impacto no desenvolvimento do país, segundo estudos recentes do NAE – Núcleo de Assuntos Estratégicos do Governo Federal, que está preparando o planejamento estratégico do país baseado inclusive na opinião abrangente dos empresários. Além disso, já são discutidas propostas para os marcos regulatórios, para o mercado de capitais, para a infra-estrutrua logística, para as relações do trabalho e para a concorrência desleal.

Por ironia do destino, o atual presidente da república começa a ter como verdadeiros advisors alguns capitães da gestão e da eficiência, na luta por um país diferente: Jorge Gerdau, Abílio Diniz, Roger Agnelli, Eugênio Staub, Armando Monteiro, Paulo Skaf, para citar alguns nomes. O sucesso desta iniciativa está na capacidade de articulação e coordenação das forças empresariais, políticas e sociais, afinal, a causa é nobre e parece ser única.

Enquanto isso, eliminemos rapidamente e com eficiência mensalões e coisas do gênero, que fazem do país candidato em 2006 ao 4º mundo no ranking da mediocridade.  

Autor: André Ribeiro Coutinho - Diretor da Symnetics Consultoria, MBA pela Fundação Dom Cabral e Mestre em Relações Internacionais pela Universidade de Reading.

Publicado em 1/8/2005  

 

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